quarta-feira, 7 de maio de 2008

Laranja Mecânica (Direção: Stanley Kubrick/1971)

Exibição: 19/05/08. Comentários: Eduardo César Benedicto (psicanalista Clin-a) e Sergio Alberto de Oliveira (maestro do coral- USP)

Sinopse

Em uma desolada Inglaterra do futuro, a violência das gangues juvenis impera, provocando um clima de terror. Alex (Malcolm McDowell) lidera uma das gangues e, após praticar vários crimes, é preso e submetido à reeducação pelo Estado, com base em uma técnica de reflexos condicionados. Quando ele volta à sua vida em liberdade, é perseguido por aqueles que foram suas vítimas, Mr. Alexander (Patrick Magee) e sua esposa. Filme clássico do diretor Stanley Kubrick, que mostra situações de ambigüidade moral e terrível violência. Adaptação do livro de Anthony Burgess, Laranja Mecânica teve quatro indicações ao Oscar em 1971 e entrou para a lista dos 100 melhores filmes do American Film Institute.

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LARANJA MECÂNICA
De Stanley KUBRICK e Anthony BURGESS (Por Sergio Alberto de Oliveira*)

Para uma melhor análise do filme Laranja Mecânica, é importante contextualizá-lo na época de sua produção. .Burgess escreveu o livro em 1962 e o filme foi lançado em 1971, no auge da chamada contracultura. As décadas de 1960 e 70 produziram um conceito artístico de grande apelo visual, o Psicodelismo, advindo do uso de drogas psicotrópicas como o LSD. Cores fortes, vibrantes e muitos arabescos eram a marca deste movimento, que produziu inúmeras capas de discos tais como o famoso Sargent Pepper’s dos Beatles e no Brasil os da tropicália.

Nesse sentido, Kubrick e os responsáveis pela fotografia do filme “enxugaram” o conceito do psicodelismo expondo-o através do uso das cores fortes e contrastantes, mas limpando seus arabescos, cuja lembrança ocorre, por exemplo, na cena inicial, no cardápio exposto nas paredes da Leiteria Korova. Kubrick manteve, portanto, a marca de sua época, tentando imaginar um cenário de futuro, de final de século vinte, onde as formas seriam mais limpas, os espaços mais amplos. “Releu”, enfim, o ambiente daquela época, antecipando-se à consagração do movimento pós-modernista, que viria a acontecer a partir da década de 80.

No filme, o pensamento de uma nova leitura aparece mais fortemente, sem dúvida, na questão musical. Kubrick nos traz, através da trilha sonora do filme, uma amostra fantástica do que é uma releitura e quais as suas intenções. Partindo da idéia contrária do modernismo, que se associa à criação do “novo”, o pensamento pós-moderno não mais acredita neste conceito, mas no de que tudo já foi criado e a partir de então tudo será re-criado, re-visto, re-lido.

Afora a crítica social e os aspectos psicológicos expostos no filme, a quebra das significações mais fortes acontece na música e através da música, haja vista o nome da técnica testada pelos cientistas, denominada Ludovico, uma clara “lembrança” do compositor Ludwig Van Beethoven.

A trilha sonora, quase toda baseada na música erudita, com músicas deste autor, de Rossini, Rimsky-Korsakow e Purcell, entre outros, utiliza versões arranjadas para sintetizadores, além das versões originais. A música erudita, simbolicamente ligada ao espírito da perfeição, do clássico, da virtude, é usada no seu sentido contrário, fazendo uma “cama” sonora para a violência e degradação ética e moral. Na época em que foram lançadas nas suas versões sintetizadas por Walter Carlos (hoje Wendy Carlos), houve críticas ferozes contra tal “heresia”. Na verdade, no filme existem duas etapas de releitura musical: primeiramente a tecnológica, propiciando a possibilidade de se “reler” as obras clássicas dando-lhes nova roupagem; e posteriormente, tal “releitura” alcançando níveis verdadeiramente conceituais, dando um novo sentido a ela, re-significando, enfim, sua própria mensagem. Desta forma, a Ode à Alegria de Beethoven, um hino à irmandade, à humanidade, transformou-se na sensação pura do ódio, da raiva, da “lembrança” da agressividade humana, expostas no momento da tortura auditiva de Alex pelo escritor.

Tecnicamente, os realizadores da trilha sonora não se utilizaram de grandes inovações. Na verdade, usaram recursos existentes desde o início do cinema, tais como a utilização de músicas sinfônicas originais. Executaram-na, porém, com grande maestria, uma vez que longos trechos das peças foram associados às imagens muitas vezes através da técnica chamada mickeymousing, onde a música pontua os movimentos dos atores, tal como nos desenhos de famoso ratinho americano. Exemplos: as gangues brigando ao som de Guilherme Tell e o ritmo acelerado na cena de Alex e as duas garotas no quarto.

Enfim, nesta breve análise, verificamos o êxtase de Alex ao final do filme acompanhado pela 9ª Sinfonia de Beethoven, cuja Ode à Alegria, agora novamente re-significada com um giro de 180°, sugere uma “leve” distorção da alegria da humanidade sonhada pelo grande compositor.

* Sergio Alberto de Oliveira
Regente, Mestre em Artes e Doutor em Música

3 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Esse filme é do diabo!

Christa disse...

This is fantastic!