sábado, 22 de março de 2008

Tropa de Elite (José Padilha/2007)


Exibição: 19/03/08. Comentários: Eduardo César Benedicto e Mauro Moura Mohan (Psicanalistas Associados Clin-a)
Sinopse
O filme retrata o dia-a-dia do grupo de policiais e do Capitão Nascimento (Wagner Moura), membros do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais). Em 1997, Nascimento quer sair da corporação e tenta encontrar um substituto para seu posto. Paralelamente, dois amigos de infância, que se tornaram policiais, se destacam em seus postos; para acabar com a corrupção na polícia, eles têm o objetivo de entrar para o Bope.
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Pontuações feitas por Eduardo Benedicto (Psicanalista Clin-a)

O filme me pareceu um tanto quanto explícito, pouco subentendido. Já no início conhecemos o capitão Nascimento que narra todo o filme. Nesse caso, fica claro que o ponto de vista apresentado é a partir da instituição "BOPE".
O diretor do filme, José Padilha, foi duramente criticado por ter sido fascista, por fazer apologia da tortura. Considero, no entanto, que o ponto de vista da obra não necessariamente coincide com a opinião do diretor.

"BOPE" e a Identificação do Público:

A falta de idealização da classe média acaba por colocar em primeiro plano o consumo capitalista. O ato a que se destina a pulsão é o ato do consumo, que coloca o sujeito como o próprio objeto consumido, capturado pelo discurso capitalista e que oferece um objeto-droga para o vazio de sentido. Não há relação entre sujeitos, trata-se de uma relação com o objeto-coisa que se encerra na própria coisa. Falta a Lei/lei que venha dar para o sujeito a medida do que é possível e acessível. Tudo é permitido no morro e na corporação: corrupção, drogadição, suborno, prostituição, destruição, morte! À falta de sentido de existência para o sujeito, apela-se à algo como um gozo no uso e abuso da substância-droga, que acaba por curto-circuitar qualquer perspectiva de significação e sentido para o sujeito.
Podemos considerar que é na medida em que o Capitão Nascimento incorpora o herói e o Ideal ausente na modernidade e no discurso contemporâneo, que o público identifica-se com ele, vibrando e gozando com seus atos violentos e "necessários" à uma vingança coletiva. Penso ser esta uma das formas de identificação que o filme traz, o que o torna sucesso de público e de grande repercussão. Para o desbordeamento eminente do sujeito– Ausência de lei, caos pulsional, contamos com a intervenção do BOPE. No morro tem lei, no BOPE tem lei, e esta Lei que o sujeito e o público demandam.

Personagens

Classe Média
Alienação à um saber oco, sem aplicabilidade, que só circula na academia. Baseados na ingenuidade, na pena do outro, sem um saber mínimo da lógica de funcionamento e das regras do morro. Paga-se com a vida essa sua posição ingênua: “Estudantes são legais e tem um monte de menina bonita, bem intencionada...” (fala do personagem do Capitão Nascimento)


O Capitão Nascimento ao se colar na idealização de fazer 1 com a corporação, apaga-se enquanto sujeito. "Seita do BOPE": culto do embrutecimento para tudo suportar! Apagar-se para ser BOPE, enBOPEser. Não pode haver emoção, "Não se pensa com o coração”, só se pensa com a lei do outro. Sintomas de stress e de apagamento do personagem capitão Nascimento mostram que algo do sujeito está prestes a explodir e/ou sucumbir. Capitão Nascimento aponta para uma saída subjetiva, para um novo lugar com o nascimento do filho. Algo que toca no humano, no acontecimento íntimo e doméstico, que o faz desalienar do desejo institucional e reportar-se à sua singularidade. Para sair da posição alienada ao outro BOPE, há que se deixar um outro apto para ocupar esse lugar: Matias, a quem se embrutece para ser o novo comandante, o Capitão do BOPE. Matias se objetifica enquanto Nascimento torna-se sujeito.

contato: dubenedicto@usp.br

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